terça-feira, maio 08, 2007

O epitógio de platina - 1. As regras do jogo

Imaginemos um torneio de futebol criado para que fosse ganho pela equipa A.

Os árbitros eram escolhidos apenas após serem conhecidas as restantes equipas B, C, D, etc.

Imaginemos ainda que as equipas entravam em campo sem conhecerem as regras do jogo: consoante o resultado que conviesse à equipa A, o critério (conhecido pelas equipas apenas no fim da partida...) que ditaria a vitória de uma dada equipa seria:

  1. - Num jogo, ganharia a equipa que a arbitragem decidisse que ganhava e pronto! Eventualmente se lhe pedissem muito que justificasse, diria que era porque tinham equipamentos muito bonitos.
  2. - Noutro, ganharia a equipa que tivesse a bola durante mais tempo apesar de ter marcado menos golos.
  3. - Noutro, ganharia a equipa que tivesse marcado mais cantos apesar de ter marcado menos golos.
  4. - Noutro ainda, ganharia a equipa que fizesse mais faltas sobre o adversário mesmo que isso não lhe tivesse servido para marcar mais golos.
  5. - Noutro, ganharia a equipa com maior número de foras-de-jogo porque isso significava maior empreendedorismo...

Penso que poderia dar muitos mais exemplos, tão ou mais disparatados do que estes, se a minha “ciência” futebolística fosse maior.

Tanto quanto sei, e apesar das reclamações que recaem sobre as arbitragens, dos “Apitos Dourados” e quejandos, não me consta que alguma vez se tenha chegado ao extremo que aqui imaginei.

Ora bem, nos concusos para Professor Associado e Catedrático das nossas Universidades Públicas, é isto que se passa. Sem tirar nem pôr:

  1. - Num concurso ganha o candidato mais novo porque é um jovem muito “prometedor”. Claro que, como os lugares de Professor Associado e de Catedrático são lugares de quadro, ninguém vai depois verificar se as promessas se cumpriram.
  2. – Noutro, ganha o mais velho, como “prémio” de carreira.
  3. - Noutro ganha o que até à altura do concurso teve mais projectos e (portanto) mais estudantes de Doutoramento, mesmo que isso não se tenha traduzido num maior número de publicações; bem pelo contrário.
  4. - Noutro concurso ganha o que tiver maior número total de publicações.
  5. - Noutro ganha o que tiver maior número de publicações no último ano.
  6. - Noutro concurso ganha o que fez o melhor relatório da cadeira (prova a que os restantes candidatos não têm acesso).
  7. – Noutro, ganha.... o(a) que teve o padrinho mais activo.

Ao contrário das regras de 1 a 5 que foram um exercício de pura imaginação, as regras de a. a g. já foram esgrimidas por alguns elementos dos júris nos vários concursos a que concorri. Concluindo: a regra é não haver critérios e imperar o livre arbítrio. Nas Universidades Públicas, no que diz respeito à carreira dos Professores, não passámos da era do polegar do Imperador...

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