quinta-feira, março 02, 2006

Eu lamento

(Publicado em O Independente, 30 Nov. 2001 por Teresa Sá e Melo)

Lamento, mas pela 1ª vez ao fim de 27 anos o meu voto não será à esquerda.
Lamento ter de dizer a todas as minhas amigas, feministas e de esquerda, que o acordo de cavalheiros estabelecido publicamente para a autarquia de Lisboa é uma vergonha.

Lamento que o melhor programa proposto pelo Miguel Portas para a cidade de Lisboa tenha como premissa de viabilidade a re-eleição do actual Presidente.

Lamento que a oferta de parte de uma rua de Lisboa a um promotor imobiliário (Rua Sidónio Pais) seja indiferente a certos lisboetas de esquerda.

Lamento que o nosso “velhinho das couves” se mantenha em silêncio nesta campanha eleitoral e não faça o seu desenho, sem intermediários, sobre o início do fim do seu corredor verde, do Parque EduardoVII até Monsanto.

Lamento que ele (Arq. Ribeiro Teles) já não nos fale e que, do fundo da sua enorme sabedoria e experiência das coisas urbanas, não nos alerte sobre a perigosa inclinação da torre oriental da Praça do Comércio.

Lamento que as Avenidas Novas tenham sido reduzidas pelos acessos aos parques de estacionamento privados.

Lamento que os lisboetas de esquerda tenham a memória curta e esqueçam os anteriores acordos de cavalheiros de há 12 anos que pré-determinaram a vitória do actual Presidente. O que aliás ainda hoje o obriga, na sua habitual frontalidade, a lembrar-nos constantemente a sua democrática eleição.

Lamento ter de dizer que não vem nas Escrituras que um político eleito para um cargo não tenha de realizar obra e, caso contrário, esse facto mereça, em Democracia, e só por si, o eterno voto dos lisboetas de esquerda. A Democracia é um processo dinâmico!

Lamento que o Poeta protegido pelas Deusas, Manuel Alegre, tenha de desbaratar o seu verbo na nobre solidariedade doméstica. E de igual forma, lamento que o leão da política portuguesa tenha renunciado ao seu faro único em nome do nobilíssimo amor familiar.

Nessa ordem de ideias será então de lamentar que a mesma defesa de tão nobres sentimentos familiares não seja extensiva à imaginativa família Portas?

Visto estarmos em boas famílias, e sendo a Democracia um processo dinâmico, não virá grande mal se, na doméstica Lisboa, a esquerda perder estas eleições autárquicas! Temos o direito de mudar de encenadores!

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