terça-feira, setembro 30, 2008

Os ladrões e a Wall Street

Um sem abrigo rouba um pão e é imediatamente preso.
Um burguês rouba muitas vezes e é considerado cleptomaníaco.
Um rico rouba milhões de euros todos os dias e é considerado um bom gestor.

Já podemos dormir descansados, o Parlamento americano (Congresso) vai votar o empréstimo de 5% do PIB americano à banca e aos seus administradores, os mesmo que a geriram até ao actual colapso financeiro.
Estamos felizes e tranquilos pois já não arriscamos o congelamento da economia, igual ao crash financeiro de 1929, nem o alto nível de desempregados famintos, nem a guerra de 1939 que lhe sucedeu.
Ao senhor Poulson, actual secretário do Tesouro americano, e que foi gestor da Goldman Sachs durante 32 anos, estamos todos gratos e reconhecidos. Pode continuar a defender as suas acções e o seu pecúlio, com a mesma expansão financeira.
Continuarão a existir mil milhões de famintos a morrer no mundo, sem guerra.

Estes iluminados convencem todo o mundo que só os gestores (accionistas) das grandes empresas têm capacidade (financeira) para serem o motor da economia. Mas se este desenvolvimento económico não se sustenta em nenhuma produção da economia real, é uma questão secundária.
A economia avança se a banca continuar a emprestar dinheiro aos pobres e a vender essas dívidas, transformadas em títulos ou fundos, a veículos virtuosos que os rentabilizam em offshore.
Os balanços bancários são virtuais, sem nenhuma correspondência com o capital. No balanço, as contas apresentadas pelos banqueiros são falsas, contando como activos “de confiança”, um crédito hipotecário mal parado.
Os bons gestores, conhecedores destas “boas regras de confiança inter-pares”, apenas investem em acções ou fundos soberanos, sempre rentáveis, baseados em produtos essenciais da economia real.
Estes “investidores qualificados” têm sempre a garantia de uma “justa” retribuição da percentagem dos benefícios, retribuição essa, paga em efectivo.
As entidades reguladoras e os seus gestores são também juízes em causa própria. O seu silêncio é gritante.

Se os Parlamentos de todos os países europeus aceitarem esta racionalização da crise e uma idêntica dádiva financeira pública à banca (-rota), então já não precisamos de democracia. Qualquer iluminado ou ditador serve.