Quando os políticos se confrontam com a incomodidade dos cidadãos
A propósito da notícia "Deputados e investigadores tomam «Café de Ciência» sobre campos electromagnéticos, no Parlamento a 16 de Abril de 2008"Seja pelo ruído que os desassossega, seja pela exposição aos campos electromagnéticos das antenas que os perturba, seja pelos cabos de alta tensão que lhes passam por cima, o povo analfabeto e cientificamente ignorante anda a incomodar os políticos.
Do alto do seu poder legislativo, apoiado pelos seus bons homens de ciência, os políticos declaram que o povo é ignorante.
O povo é ignorante porque não sabe que os níveis de referência aplicáveis para as radiações electromagnéticas são inofensivos para a saúde. Também não sabe que o ruído de baixa frequência não existe e portanto não incomoda. Quem o afirma?
1- A entidade que autoriza a instalação da antena – ANACOM – entidade esta que não fornece a ninguém, nem o campo eléctrico, nem o campo magnético nem a densidade de potência, emitida pelas antenas que licencia nas áreas residenciais. A garantia de conformidade com a legislação aplicável é nula. Não existe qualquer garantia de legalidade para os cidadãos portugueses.
2- Os homens de ciência que procedem à monitorização e medição dos níveis de intensidade dos campos electromagnéticos.
São universitários competentes e, ao mesmo tempo, empresários com interesses no mesmo domínio. Este conflito de interesses público/privado, que é proibido em Inglaterra, não o é em Portugal.
As medidas físicas são extrapoladas para a saúde e bem-estar das populações e descritas em entrevistas televisivas como saudavelmente inócuas.
Os parâmetros da Física não servem em Portugal. Os técnicos são incapazes de dizer qual o valor da radiação em dBm ou miliWatts para uma pessoa exposta, a uma distância de 300 metros da base de uma antena de 60 Watts de potência e de 85% de eficiência na transmissão. São estes juízes em causa própria que fornecem os conselhos científicos e estão na base da política e da legislação no domínio dos campos electromagnéticos. E há milhões de euros envolvidos no negócio das antenas.
3- Os nossos legisladores, apoiando-se também na ciência, relativamente ao ruído que incomoda e interrompe o sono e o sossego das pessoas.
Os físicos e os técnicos de acústica utilizam os sonómetros para medir a intensidade das vibrações audíveis.
Os resultados são referenciados a uma curva padrão de audição humana, uma medida estatística e universal, conhecida por malha ”A”.
O som audível de baixas frequências (100 Hertz) não é ponderado por esta malha ”A”, tornando-se inexistente.
A maioria da população continua a queixar-se, sem qualquer sucesso, de um ruído de base (hum noise) situado naquelas baixas frequências. A legislação continuará omissa.
Assim, os incómodos devido ao ruído de baixa frequência produzido pelas máquinas industriais de utilização no exterior, instaladas em edifícios residenciais, e provenientes de Clínicas Médicas, continuam a ser objecto de reclamações sem qualquer sucesso.
Primeiro, porque a Câmara Municipal é inoperante na fiscalização visto a Clínica não necessitar de autorização de ninguém para se instalar.
Segundo, porque, como acima descrito, a legislação e as medidas de ruído sonoro não contemplam as baixas frequências.
Conclusão científica: é verdade que o povo português é muito ignorante.