sexta-feira, abril 18, 2008

Quando os políticos se confrontam com a incomodidade dos cidadãos

A propósito da notícia "Deputados e investigadores tomam «Café de Ciência» sobre campos electromagnéticos, no Parlamento a 16 de Abril de 2008"

Seja pelo ruído que os desassossega, seja pela exposição aos campos electromagnéticos das antenas que os perturba, seja pelos cabos de alta tensão que lhes passam por cima, o povo analfabeto e cientificamente ignorante anda a incomodar os políticos.

Do alto do seu poder legislativo, apoiado pelos seus bons homens de ciência, os políticos declaram que o povo é ignorante.

O povo é ignorante porque não sabe que os níveis de referência aplicáveis para as radiações electromagnéticas são inofensivos para a saúde. Também não sabe que o ruído de baixa frequência não existe e portanto não incomoda. Quem o afirma?

1- A entidade que autoriza a instalação da antena – ANACOM – entidade esta que não fornece a ninguém, nem o campo eléctrico, nem o campo magnético nem a densidade de potência, emitida pelas antenas que licencia nas áreas residenciais. A garantia de conformidade com a legislação aplicável é nula. Não existe qualquer garantia de legalidade para os cidadãos portugueses.

2- Os homens de ciência que procedem à monitorização e medição dos níveis de intensidade dos campos electromagnéticos.
São universitários competentes e, ao mesmo tempo, empresários com interesses no mesmo domínio. Este conflito de interesses público/privado, que é proibido em Inglaterra, não o é em Portugal.
As medidas físicas são extrapoladas para a saúde e bem-estar das populações e descritas em entrevistas televisivas como saudavelmente inócuas.
Os parâmetros da Física não servem em Portugal. Os técnicos são incapazes de dizer qual o valor da radiação em dBm ou miliWatts para uma pessoa exposta, a uma distância de 300 metros da base de uma antena de 60 Watts de potência e de 85% de eficiência na transmissão. São estes juízes em causa própria que fornecem os conselhos científicos e estão na base da política e da legislação no domínio dos campos electromagnéticos. E há milhões de euros envolvidos no negócio das antenas.

3- Os nossos legisladores, apoiando-se também na ciência, relativamente ao ruído que incomoda e interrompe o sono e o sossego das pessoas.
Os físicos e os técnicos de acústica utilizam os sonómetros para medir a intensidade das vibrações audíveis.
Os resultados são referenciados a uma curva padrão de audição humana, uma medida estatística e universal, conhecida por malha ”A”.
O som audível de baixas frequências (100 Hertz) não é ponderado por esta malha ”A”, tornando-se inexistente.

A maioria da população continua a queixar-se, sem qualquer sucesso, de um ruído de base (hum noise) situado naquelas baixas frequências. A legislação continuará omissa.
Assim, os incómodos devido ao ruído de baixa frequência produzido pelas máquinas industriais de utilização no exterior, instaladas em edifícios residenciais, e provenientes de Clínicas Médicas, continuam a ser objecto de reclamações sem qualquer sucesso.
Primeiro, porque a Câmara Municipal é inoperante na fiscalização visto a Clínica não necessitar de autorização de ninguém para se instalar.
Segundo, porque, como acima descrito, a legislação e as medidas de ruído sonoro não contemplam as baixas frequências.

Conclusão científica: é verdade que o povo português é muito ignorante.